Por Marcelo Segredo – Presidente da Associação Brasileira do Consumidor
Alegando querer proteger a indústria automotiva nacional, o governo aumentou, sem prévio aviso, o IPI sobre veículos importados de fora do Mercosul em 30 pontos percentuais. A medida visa encarecer os carros importados, para que suas vendas não incomodem tanto as dos nacionais, como vinha acontecendo.
Falando sob ponto de vista do consumidor, a questão é saber o motivo que estava levando mais e mais compradores a optarem pelos carros importados.
Isso é fácil responder: pelo mesmo preço ou apenas um pouco mais, eles oferecem muito mais tecnologia, conforto e itens de segurança. Nem dá para comparar a qualidade e durabilidade: há até marcas asiáticas dando seis anos de garantia!
Com esse aumento dos importados por causa do imposto, menos brasileiros terão acesso a esses carros muito melhores, e serão obrigados a se conformar com as nossas “carroças”.
A indústria automotiva nacional sempre foi beneficiada pelo governo. Tanto que elas estão até acomodadas, na qualidade e preços altos dos veículos, e no atendimento pós-venda aos consumidores nas sua concessionárias. Recebemos reclamações nesse sentido com muita frequência, aqui na associação, e o consumidor tem muita dificuldade em ser bem atendido.
Argumento do governo não mostra a realidade
Aproveito para informar sobre como o setor nacional de autopeças vê esse aumento de IPI para os importados, que o governo alega ser também revitalizador para esse segmento: O presidente da Anfape (Associação Nacional de Fabricantes de Autopeças), Renato Ayres Fonseca, afirma que esses benefícios são duvidosos, porque as próprias montadoras, principalmente as maiores e mais antigas no País, são as grandes importadoras, não só de carros, mas também de peças. “Seus grandes fornecedores, conhecidos como sistemistas, empresa globais presentes em muitos países, também figuram entre os grandes importadores de autopeças, apesar de possuírem tecnologia e capacidade ociosa suficiente para produzir aqui grande parte do que importam”, explica, acrescentando que “o problema da competitividade da indústria automobilística nacional não é a entrada de veículos, mas de autopeças”, completa.
Fonseca informou que, em 2006, a balança comercial de autopeças teve um superávit de US$ 2 bilhões.Segundo ele, nos quatro anos seguintes, o déficit já chegou a US$ 3,5 bilhões; já em 2011, o déficit já está 23% mais alto do que em 2010 – que mostra o verdadeiro retrato da desindustrialização em estágio avançado no País.
Portanto, vemos que, além de prejudicar o consumidor, o aumento anunciado pelo governo em nada beneficia a indústria no Brasil e os seus milhões de trabalhadores.
A associação está à disposição dos consumidores lesados pelas montadoras nacionais e suas concessionárias.